No twitpic as melhores fotos, no FB as festas mais badaladas, no twitter os murmúrios que dão margens a comentários, fofocas, exposição demasiadamente desnecessária onde a intriga é instituição.
Aqui, o lindo, o bacana, o inusitado.
Da tela para fora, no meu universo e caos particular, uma vidinha mais ou menos, uma pancinha, uma dor de cotovelo.
Uma deprê basiquinha,
Uma flutuação de hormônios,
Um aperto para pagar as contas,
Uma cafonice, querida, nem te conto.
Uma espinha na ponta do nariz.
Estamos aí para colocar a vida em pratos limpos?
Ou para tecer uma novela particular?
Para falar que o trabalho anda chato, que os chatos estão cada vez mais chatos, para mostrar para o ex que, sim, vamos bem, bebendo todas.
Para mostrar o que comemos, quanto malhamos, o filme que assistimos, a viagem que fizemos, o show magnífico.
Já me expus de forma inadequada e paguei um preço alto. Não aprendi, deveria abandonar tudo isso, mas às vezes a cachaça é boa demais.
Esse vasto mundo das redes socias é uma cachaça. Uma muleta.
Vez por outra nossos murais, timelines e afins viram mesmo uma grande granola. Futebol, Aronofsky e Dilma se misturam com fotos sensuais, indiretas e juras de amor eterno.
Há quem separe o joio do trigo.
Os sensatos e comedidos existem.
Os tediosos multiplicam-se a cada dia. Eles são o motor para nossa elevação espiritual. Suportá-los é um aprendizado.
Há os geniais, os charmosos, os que acrescentam e encantam em 140 caracteres. Imperdíveis. Irresistíveis.
Há os estritamente profissionais, os políticos, os intelectuais e os pseudo-intelectuais. Normais.
Há sim uma categorização de arrobinhas e para isso criamos as listas. Há listas. Há Blogueiros. Os puxas e os pelas-saco. Canalhas. Canastrões. Deslumbrados. Desbocados. Verborrágicos. Sexuais. Gays. Héteros. Subversivos. Carentes. Alcoolatras. Fakes. Sequestradores de afeto.
Há os diários e os diurnos. Há os Insones. Workaholics. Moderados. Salladex. Carinhosos. Afetuosos. Amigos do peito e de infância.
Infinitas são as listas.
Há follow, unfollow e follow friday.
Há a cantada exposta e a discreta. Há o bafo que ninguém pode saber, só se for por DM. Há muita especulação sobre tudo e todos. Há famosos e anônimos. Há Sans Souci, descabelados e outsiders. Pretensiosos com suas bios cheias de qualidades e nenhum defeito.
Vidas perfeitas em círculos perfeitos. Sou gente boa, sangue bom, cool, trendy, fresh. Eu sou o cara e vou fazer vc rir. Ou chorar. Me persegue. Me sufoca, faz qualquer coisa, mas gosta de mim. Comenta no meu blog, visita meu site, me lê. Enche minha bola. Me segue.
Bizarrices. Tosquices. Ogrices. Delicadezas. Amizade. Amor, por que não?
Eu acho mesmo que o mundo é carente. Todos nós. E que queríamos mais festa, mais beijo, mais gente. Gente com cheiro, pele e movimento. E essa inquietude companheira encontrou algum consolo depois das redes sociais. Há emoções que só podem ser sentidas por lá, e que embora não substituam o calor humano, dão alento. Idiossincrásicas. Relativas. Interrogativas. Pontuais.
Estamos doentes.
Ouvi dizer no twitter que cientistas da universidade de Salem em Oregon, andam pesquisando um medicamento para cura. Tomara que demore. Sou uma viciada convicta, confesso com toda culpa católica.
4 comentários:
Só pra constar, faz 1500 anos que não comento um blog...
Mas esse post me fez sair do Google Reader e vir aqui...
Apenas para deixar meu aplauso e um beijo!
Você foi uma das poucas coisas/pessoas boas que as redes sociais(ugh!)me trouxe!
Dea, adorei o post! Esse tempo todo de vida online me ensinou muito e mesmo assim às vezes ainda caio em algumas armadilhas,mas tudo é aprendizado,né? A gente aprende a não se expor tanto, pq é aquela historia, nego não vê as pingas que eu bebo, só vê os tombos que eu levo!
A parte boa é ter conhecido pessoas bacanas como você!
Beijos
@luciana
Já li algumas textos com referência ao tema das redes sociais, dos interesses subjacentes, e das pessoas que os povoam... mas o teu é algo :)
Muito bom de ler e reflectir sobre, e ainda provocou uma boa risada.
Reflecte bem os comportamentos humanos, que as redes sociais vieram ampliar pelas oportunidades que suscitam. Mas o bom das redes sociais está no nosso poder de escolha! entre puxa saco, carente, amigos de infância, vizinho metido, etc, só aturamos quem queremos.
Palavras sábias de uma mente evoluída. Provavelmente... pelo vocabulário, vê-se não ser qualquer uma.
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