segunda-feira, 12 de abril de 2010

Como disse Galeano:

O mundo é isso. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.

Amore Omnia Vincit

Seja ela prevista em personare, bulas de remédios ou pragas de mãe, a desilusão do amor não é nada comparada à desilusão consigo mesmo, causada pela péssima auto-estima (hífen ou não?) que as pessoas de bom senso costumam ter. E para esse tipo de desilusão só existe um antídoto, uma paixão. Pois o outro olha pra gente e vê tudo aquilo de lindo que espelho algum mais conseguia mostrar. Só quem está apaixonado pela gente é que tem a sagacidade de notar o que ninguém notou, fazendo enfim o elogio que nenhum professor fez, a gentileza que nenhum gentleman fez, a gracinha que nenhum canalha fez.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Bukowski, um grande e adorável alcóolatra...

Drinking is an emotional thing. It joggles you out of everyday life, out of everything being the same. It yanks you out of your body and your mind and throws you against the wall. I have the feeling that drinking is a form of suicide where you're allowed to return to life and begin all over the next day. It's like killing yourself, and then you're reborn. I guess I've lived about ten or fifteen thousand lives now.

Charles Bukowski

sábado, 3 de abril de 2010

Vini, meu amigo Vinicius de Moraes...

Para Viver Um Grande Amor
do mestre: Vinicius de Moraes

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

E daí?

Demita o guarda-chuva. Tome um banho de chuva. Desafie a timidez, converse mais do que é permitido. Coma melancia. Mexa as chaves no bolso para despertar uma porta. Relembre a escola. Sorria com a infância. Use roupas com marcas. Ou sem elas. Lembre-se que a barba é para os esclarecidos. Ligue sem motivo. Leia um livro sem buscar coerência. Não arrume a casa na segunda-feira. Não sofra com o fim do domingo. Pegue sol pelo menos de vez em quando, mas não deixe de curtir sua coloração branco-noruega. Deixe varrerem seus pés. Case sem namorar. Namore sem casar. Abrace e beije. Beije profundamente.Estude. Estude de novo e muito. Beba água ao longo do dia. E cerveja todas as noites. Cometa bobagens. Solte um palavrão. Perca a linha. Ame pessoas incrivelmente inteligentes.Visite seu dentista regularmente. Troque de escova de dentes pelo menos de 3 em 3 meses. Veja filmes toda a semana. Supreenda-se com uma nova música. Ouça Elephant Gun. Descubra sinais nos outros. Não chore, digo, não chore muito. Use cremes antiidade, eu os uso desde os 23 anos e ng hj me dá a idade que eu tenho. Desista da agenda. Se atrase, super se atrase, os pontuais são tediosos e solitários. Dispense o casaco para se gripar. Esqueça a escova de cabelo. Tenha paciência e uma tecla "foda-se" para apertar de vez em quando. E não seja séria ou sério demais. A seriedade é pontual. Seja alegre! Pois ela - a alegria - é interrogativa.